sexta-feira, 11 de junho de 2010

Uma candidatura presidencial democrática, socialista e anti-capitalista: o perfil e a sua viabilidade

No nosso país, o Presidente da República não governa. Quem o faz é o governo. É verdade!

Mas o Presidente da República é eleito por sufrágio directo e universal, e, cabe-lhe a ele nomear o primeiro-ministro, tendo poderes para dissolver a Assembleia da República.

A eleição presidencial, não é, por conseguinte, algo que deva ser menosprezado ou desvalorizado.

É um processo social e politico que deveria merecer à esquerda, as devidas atenção, participação democrática e mobilização!

As presidenciais são uma eleição que envolve primeiro cada eleitor e só depois os partidos. Elege-se uma pessoa, não se elege um partido.

Numa perspectiva de esquerda, esta eleição pode ter muito a ver com a dinâmica dos movimentos sociais. Porque a eleição de um Presidente corta transversalmente o espaço dos partidos, da direita à esquerda.

A eleição presidencial em 2011, acontecerá num momento em que a crise económica deverá atingir um ponto muito alto quanto às suas consequências negativas no plano social. É provável que o clima social em Portugal e nos países do sul da Europa, mas não só, esteja ao rubro, com uma sucessão de manifestações, protestos e até greves gerais.

No entanto, a avaliar pelo estado das coisas, neste momento, é muito provável que as esquerdas apresentem em 2011, candidatos designados ainda durante o primeiro semestre de 2010, e, todos eles, muito condicionados ao que as direcções partidárias decidem. São escolhas que se apresentarão como algo desenquadradas no tempo e na forma para abordarem um combate sério às crise e às suas consequências sociais.

O movimento social, a quem pertence muitas vezes a iniciativa do protesto, antecipando-se ao congeminar das direcções partidárias, é relegado (por essas direcções partidárias) para segundo plano e é menorizado quanto à sua capacidade de afirmação política.

Numa perspectiva democrática, socialista e anti-capitalista, as eleições presidenciais representam, em simultâneo, várias oportunidades que não devem ser desperdiçadas:

- é um processo em que as iniciativas social e cidadã obrigam a redefinições, reorganizações e reformulações no quadro politico-partidário existente;

- é um processo em que se pede não só a mudança de um Presidente, mas que apela também à mudança nas políticas e no País;

- é um processo que deveria servir para cortar com as lógicas mediáticas da sociedade do espectáculo, do mediatismo e do exibicionismo. Ou seja, um candidato a presidente não tem de ser dirigente de coisa nenhuma, não tem de ser mediáticamente conhecido, do tipo "fazedor de opinião", não tem de ter título académico ou de outra ordem. Um candidato presidencial é, nesta perspectiva, promovido, mediatizado e identificado pelo movimento social.

Infelizmente as direcções das esquerdas, escolhem os seus candidatos usando quase os mesmos critérios que a direita usa. Mude-se a retórica, alterem-se adjectivos e substantivos, e, parece tudo decalcado a papel químico. É a influência de um parlamentarismo, onde os jogos e as negociações, da direita à esquerda, fazem esquecer o movimento social e todas as formas de democracia participativa e directa.

Em Junho de 2010 será ainda possível promover um candidato que represente a iniciativa dos movimentos sociais e apresente um programa de afirmação democrática e socialista? Um programa de corte com o ciclo de políticas neo-liberais e de ataque sistemático a todas as formas de apoio e afirmação sociais?

Na minha opinião é dificil, mas não deixa de ser possível! Seria também, para muitos milhares de cidadãos, uma oportunidade para exercerem o seu voto.

Será que já imaginaram quantas e quantos se interrogam, neste momento, sobre se valerá a pena votar com o tipo de candidatos que as esquerdas se preparam para apresentar em 2011?

Um candidato democrático, socialista e anti-capitalista, vindo dos movimentos sociais, tem de possuir um perfil que lhe permita ser reconhecido como pessoa que sabe o que é esta crise e que sabe também onde deverá ir buscar forças para a combater de uma forma que mobilize a maioria social deste país.

Porque não um DESEMPREGADO? Porque não um PRECÁRIO , daqueles que já o são há anos e anos sem conta ? Porque não um ACTIVISTA SINDICAL? Porque não uma Mulher ou um Homem comprometido com o espaço da afirmação cultural? Porque não alguém comprometido com a afirmação dos movimentos cooperativo e da economia social?

Na minha opinião, existem muitas e muitas vontades que convergiriam num movimento de afirmação de uma candidatura presidencial deste tipo. Há movimentos sociais que também poderiam ter esta iniciativa.

A viabilidade de uma candidatura deste tipo, de uma candidatura que resulta da crise que outros originaram, mas que a maioria sofre na pele, é viável, desejável e benvinda.

João Pedro Freire

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